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Engenharia elétrica e MATLAB: entrevista com Gilson Maekawa Kanashiro

8/08/2023
14 min. de leitura

A engenharia elétrica é uma área de conhecimento que demanda habilidades técnicas e ferramentas poderosas para realizar projetos e análises. Nesse contexto, o MATLAB destaca-se como um software amplamente utilizado pelos engenheiros elétricos.

Isso porque o programa oferece uma vasta gama de recursos e funcionalidades para simulações, modelagem e resolução de problemas complexos. 

Por meio dessa poderosa plataforma, é possível realizar cálculos numéricos, visualizar dados, desenvolver algoritmos e criar interfaces gráficas. Tudo isso facilita muito o processo de projeto e otimização de sistemas elétricos.

Em meio a profissionais que se destacam nesse campo, encontramos Gilson Maekawa Kanashiro, que atualmente é docente de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR). 

Nascido em Campo Grande (MS), ele trilhou uma trajetória impressionante no campo da engenharia elétrica. Kanashiro estudou no prestigiado Instituto Militar de Engenharia (IME) do Rio de Janeiro, onde se deparou com desafios acadêmicos intensos e teve de aprimorar constantemente os conhecimentos.

Após ingressar no IME, Kanashiro percebeu que a jornada acadêmica seria ainda mais desafiadora do que imaginava. 

Determinado a destacar-se na área, dedicou-se intensamente aos estudos, aprimorando as habilidades em MATLAB e em outras ferramentas essenciais para a engenharia elétrica. Tal dedicação e o desejo de aprender constantemente levaram-no a conquistar uma base sólida de conhecimentos e a desenvolver competências técnicas avançadas.

Ao longo da carreira como engenheiro militar, Kanashiro teve a oportunidade de vivenciar diversas experiências em diferentes locais, mas foi no Paraná que encontrou o lar dele. 

A paixão pela engenharia elétrica e a expertise no uso do MATLAB tornaram-no uma referência na área, compartilhando o conhecimento dele por meio do ensino e contribuindo para a formação de futuros profissionais.

Vamos conhecer mais sobre Gilson Maekawa Kanashiro? A seguir, leia nosso bate-papo com esse especialista!

 

Você já sabia que queria fazer Engenharia Elétrica quando foi fazer a prova para ingresso no IME?

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Não, porque no IME é diferente. É totalmente diferente. Você entra e até o terceiro ano você não tem casa. Você vai escolher a sua casa no terceiro ano, de acordo com a sua classificação e o número de vagas disponíveis. 

Assim, você entra numa das engenharias do IME. Na minha época, eram dez. Então escolhi uma delas. 

Os três primeiros anos são comuns para todo mundo. E são nesses anos que a gente estuda muita matemática, física, química, português e inglês. Basicamente foi só isso.

Ramos da matemática, como estatística, números complexos, equações diferenciais, entre outros, são estudados de forma aprofundada.

 

Foi durante sua graduação no IME que você começou a trabalhar com o MATLAB?

Sim, foi lá na graduação que eu comecei a mexer. Por volta do ano de 2001, comecei a ter contato com o software

A gente trabalha com vários softwares, mas o MATLAB marca pelo potencial dele. Desde aquela época já marcava muito, porque ele permitia resolver as coisas de forma mais simples. 

Naquela época, ele era mais um software para mim. Mas, no mestrado, já não mais. Como eu vim para o Paraná, comecei a fazer um mestrado em Engenharia, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). E eu acabei tendo contato novamente com o MATLAB.

Além disso, também fiz mestrado em Matemática. Porém, a Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde realizei o curso, não utiliza o MATLAB

Mas, logo depois, eu estava aqui no IFPR, já como professor, e comecei a sentir falta. Isso porque muita coisa eu conseguia construir no Simulink da minha época.

 

Como se deu o processo da ideia até a aquisição do MATLAB no caso de vocês, IFPR?

Então, ao pesquisar para ver como é que estaria o Simulink hoje, tive uma surpresa atrás da outra! 

O MATLAB que eu vi lá em 2001 não tem nada a ver com o MATLAB de hoje. Atualmente, ele está muito mais robusto, com uma infinidade de integrações para você poder trabalhar.

Com a necessidade veio também a oportunidade, quando a MathWorks começou a mudar sua política para licenças às Universidades. Conseguimos para o IFPR Campus Paranavaí. Algum tempo depois, nos apresentaram o Campus-Wide License (CWL). Passei a pensar que talvez daria para fazer para todos os campi do IFPR.

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Teria de mover um processo enorme aqui, mas o começo de tudo seria me ligar com a reitoria ou uma das pró-reitorias, órgãos máximos no Paraná. Acabei enviando um e-mail descompromissado ao reitor, Odacir Zanatta, achando que seria apenas mais uma daquelas mensagens recebidas e deixadas de lado… 

Mas ele leu! E não apenas leu, como também gostou da sugestão e acabou me desafiando a encarar a jornada. Sim, um processo desse porte dá muito trabalho burocrático na esfera pública. Nada que eu já não tivesse visto. Topei na hora!

 

Pode mencionar algumas características do MATLAB que mais o agrada?

O MATLAB tem muita modelagem estatística e matemática! E o bom é que não para nisso. Ele consegue misturar inteligência artificial para reconhecer padrões, por exemplo.

Além disso, consegue utilizar toolboxes que tratam eventos discretos ao mesmo tempo em que trata de outros domínios contínuos, comuns em Engenharia Elétrica e Mecânica. Novos toolboxes são integráveis aos anteriores. Essa combinação aumenta mais ainda o poderio do MATLAB.

Há aplicações que são muito inusitadas, como em plataformas de streaming de filmes ou em genoma… vai da criatividade do cidadão – quero dizer, do pesquisador.

 

Qual a importância do MATLAB para pesquisa, na sua opinião?

Hoje, parte do meu trabalho é ser pesquisador. Precisamos de ferramentas que, vamos dizer assim, apresentem resultados validados, que não estejam em fase de teste. Sou adepto de software livre, mas a verdade é que em pesquisas como as de imagens médicas, de veículos autônomos ou de naves espaciais, são necessárias mais produtividade e precisão.

Já bastam as dúvidas que se tem na fronteira da ciência. Então, o software que está usando deve fornecer a solução para operar seus dados. Com as atualizações dos softwares, precisamos contar com suporte técnico para nos reciclarmos ao longo do tempo. Isso é mais importante no longo prazo para uma equipe de pesquisa. Além do suporte especializado, temos exemplos, fóruns e workshops constantes no ecossistema do MATLAB.

Ah, vale lembrar que o suporte do MATLAB aqui no Brasil mudou completamente. Antigamente, eu recorria sempre a um professor mais antigo que conhecia como é que se fazia isso ou aquilo.

Hoje em dia é mais fácil! Você liga para São Paulo e conversa com um brasileiro, uma pessoa que entende o meu contexto. É totalmente diferente do que quando comecei a usar o programa, na graduação.

 

Fale-nos um pouco sobre sua experiência com o mundo corporativo.

Eu trabalhei mais alguns anos ainda no Exército. Tive sorte e acumulei bastante experiência, porque eu estava inserido no sistema de obras federais.

Como as obras federais envolvem milhões de reais, você acaba se envolvendo com grandes equipes e com pessoas formidáveis. As equipes são multifacetadas e contam com engenheiros, com profissionais da administração, da área de recursos humanos etc.

Então, tem toda essa estrutura, tanto interna quanto com a interface, com as empresas, com as construtoras e as empreiteiras. Quando eu saí do Exército, levei essa experiência toda comigo.

 

Como você começou a carreira como professor? Conte-nos um pouco sobre sua experiência na área do ensino da Engenharia.

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A UTFPR foi o primeiro cargo que eu assumi como servidor federal temporário. Nesse cargo, eu era da Engenharia de Computação e atuava como professor de disciplinas sobre algoritmos, bancos e estrutura de dados.

Da rede federal, essa é minha primeira experiência com a burocracia, porque é bem diferente de uma instituição particular.

Se você for professor da rede privada de uma faculdade particular, é totalmente diferente, é uma realidade bem diferente. Ser professor federal é muito mais complicado!

Eu era professor de uma escola de rede privada. Nessas instituições, você é contratado para dar aulas e pronto! Porém, nas escolas federais, as funções se misturam um pouco.

O professor federal, além de dar aula, também se responsabiliza por pesquisas. Isso envolve toda uma série de burocracias em torno. Inclusive, quando eu puxo uma verba para poder pagar um bolsista, a responsabilidade é minha.

Toda a verba investida em pesquisas deve ser justificada para o Governo Federal. E aí surge mais ainda a necessidade de ter um software simulador que nem o MATLAB. 

Não dá para arriscar o dinheiro que eu recebo para construir um protótipo que não vai funcionar. Por isso, o MATLAB ajuda muito, pois tudo que é projetado, antes foi testado várias vezes. E qualquer pesquisador faz isto: só bota dinheiro para construir um protótipo depois que ele tem alguma certeza de que aquilo ali vai dar certo. Sem falha!

 

Com o MATLAB disponível para dar aula, quais são os ganhos que você enxerga na sua rotina como educador? Que resultados melhoram utilizando o MATLAB?

O MATLAB é recente no IFPR. Hoje eu ainda encontro uma resistência por parte dos alunos novatos. É compreensível, porque se olhar a quantidade de toolboxes que tem no MATLAB, realmente assusta.

Tento contornar pegando alguns modelos prontos no site da MathWorks, usando live editor, por exemplo, e mostro para eles como o programa funciona. E os deixo explorando o MATLAB à vontade, onde eles simulam e veem o que vai acontecer.

O laboratório serve para que o aluno veja a realidade acontecendo, como foi simulado, para que ele veja os valores calculados. Então, ele prediz o comportamento do motor pelos valores. Mas, se ele erra esses valores, não está predizendo nada, ele está errando, está projetando errado e por aí vai, né?

Agora, sabe qual é a vantagem suprema do MATLAB? É que, ao montar os aparelhos, os alunos costumam queimar alguma coisa, uma hora ou outra vai queimar [risos]. No MATLAB não queima! É tudo virtual, é simulado!

Então, trata-se de uma excelente ferramenta e cada um tem na sua casa! Não precisa ir lá no laboratório e pedir permissão para entrar, marcar, agendar.

Saiba como disponibilizar o MATLAB para todos os alunos e professores de seu campus

O impacto para mim é este: cada aluno tem o seu laboratório na frente da tela, desde que ele tenha pelo menos um celular. E a maioria tem.

 

Você acredita que o MATLAB acaba estendendo-se para o Ensino Médio também?

Com certeza, sim. Eu uso com meus alunos do médio. Isso é uma vantagem enorme, tá? Eu só tive contato com isso na graduação, mas tem garotos e garotas aqui que têm vocação, muita vocação! E já estão alimentando essa vocação.

Não é todo mundo, mas alguns têm muito potencial para Engenharia! São garotos que entram ali no primeiro ano, com uns 16 anos, e já têm contato com uma ferramenta profissional, usada no desenvolvendo das tecnologias mais evoluídas do planeta.

Imagina se esse moleque entra na Engenharia e continua esse desenvolvimento, vai estar voando, entendeu?

E tem algumas teorias que dizem que a abstração matemática se desenvolve plenamente na idade adulta, então é depois dos 20 ou 21 anos, né? Só que esse garoto está, vamos dizer assim, estimulando os circuitos neurais dele desde os 16.

O contato com a ferramenta propicia isso. Eu costumo comparar com andar de bicicleta. Uma coisa é você ficar olhando um vídeo sobre andar de bicicleta, outra coisa é você montar nela, cair, pedalar, cair, montar de novo, pedalar, entendeu?

Em circuitos elétricos, as matérias básicas, eles vêm inclusive como técnico no Ensino Médio, a gente já começa a dar uma fuçadinha ali, entendeu? 

Algumas programações básicas, né? Porque envolve looping na programação lá, já vê no MATLAB para poder simular. E lá tem uma facilidade que você consegue ver a variável, consegue dar um pause no meio da execução.

Tudo isso facilita! Tem um aluno meu que era do Ensino Médio e agora está na faculdade de Engenharia. O contato precoce faz toda a diferença!

 

Para finalizar, fale-nos um pouco sobre como você enxerga a importância do MATLAB hoje e no futuro. Também deixe um recado para os alunos e professores que utilizam o programa. 

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A gente precisa de uma ferramenta confiável, uma ferramenta que tenha suporte, principalmente, seja ele técnico (para nos atualizarmos) ou administrativo (promovendo hackathons).

Por exemplo, não é necessário sobrecarregar o TI do IFPR para poder fazer a instalação, a manutenção, o cadastro de licenças do MATLAB. Tudo é executado a partir dos servidores da MathWorks. Se eu, inclusive, não quiser instalar na minha máquina, eu consigo acessar o MATLAB via navegador.

Isso é muito importante. Não se trata somente do software, existe aí um ecossistema e eu acho que isto é preponderante para profissionais da ciência. Além da ferramenta, é preciso um suporte para se atualizar, saber das novidades e alguém para gerenciar tudo. É um desafio enorme, mas considero que a MathWorks está no caminho certo.

A complexidade da ciência segue no mesmo compasso. É preciso considerar mais em termos da composição de ecossistema do que comprar só uma ferramenta ou ter só um software. É preciso ter um ambiente para esse trabalho. Se você não tem um ambiente para desenvolver, não vai ter um ambiente para inovar.

Hoje, eu não abriria mão desse ecossistema da MathWorks, pois o MATLAB fornece uma solução de armazenar, compartilhar, de acessar de qualquer lugar. É assim que se estimulam as coisas acontecerem, isso é imprescindível para a Engenharia hoje em dia. Vamos desenvolver coisas para a frente! Se a sua universidade tem a felicidade de ter o MATLAB, tem de usar e abusar.

E, se não tem, é mais uma questão de planejamento, pois o custo-benefício é excelente. A política de licenças da MathWorks é muito boa mesmo, se for comparada a outros, já que não se trata somente do software em si.

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Assim como nosso entrevistado, Gilson Maekawa Kanashiro, vários especialistas e profissionais de diferentes áreas usam e aprovam o MATLAB. Em nosso blog, temos vários conteúdos que atestam isso. Não perca tempo e conheça!